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Terapia do grito

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Rodrigo Durão Coelho | 2009-06-18, 10:41

Gritar à vontade durante um jogo de futebol pode ser altamente terapêutico.

Especialmente se seu grito se perde em meio a uma cacofonia animada que contribui para tornar um evento relativamente morno, como uma partida de futebol por vezes medíocre, em um evento que faz o sangue ferver.

Assisti ao jogo entre África do Sul e Nova Zelândia na casa de moradores de Johanesburgo, pessoas vindas de famílias pobres que, graças à democratização e programas de distribuição de renda para negros, em vigor desde 1994, subiram de classe social, para o que no Brasil seria considerado média alta. Dinheiro de ouro e diamantes.

Mas a ascensão social não suavizou a animação dessa gente que atende por apelidos como Gift (presente), Tomb Boy (menino da tumba) e Joy (alegria). E desde o início da partida, os urros, gritos, saltos e socos na mesa ou no ar são constantes.

Outra polêmica que surgiu essa semana tem a ver com o barulho. As 'vuvuzelas' são os cornetões que não param de soar durante todo o jogo. Elas vêm sendo criticadas por serem altamente azucrinantes, mas o fato de as críticas virem, na maioria, de brancos, gerou um debate racial.

Os negros dizem que a vuvuzela é parte integrante da forma deles torcerem. Portanto, se eles se comportam de acordo com a etiqueta local nos jogos de rúgbi e críquete que atendem, que os brancos, considerados por eles verdadeiros turistas em estádios de futebol, respeitem a tradição. Ok, muito bem, me convenceu.

Eu, que na primeira vez que estive em um estádio sul-africano saí com um zumbido constante no ouvido e a cabeça latejando por causa da vuvuzela, já me convenci a levar um analgésico para o estádio e resolver a parada.

Voltando à casa de Gift: o relato que fiz dizendo acreditar que o zagueiro Matthew Booth, branco, estava sendo vaiado pelos torcedores, gerou gargalhadas gerais. "É uma armadilha para enganar quem não conhece", disseram eles.

Com bom-humor, me disseram também que o técnico da seleção da África do Sul, Joel Santana, lhes lembrava o personagem do filme O bom, o mau e o feio, de Sergio Leone. O brasileiro seria o feio, no caso.

Ouvir isso enquanto vejo o rosto de Joel, com expressão de quem acabou de ser acordado no meio da noite pela polícia secreta, contribui para o efeito cômico.

De qualquer forma, a vitória por 2 a 0, se não foi o massacre necessário para lavar a alma da torcida, proporcionou uma sobrevida ao time, que ainda sonha com uma passagem para as semifinais.

dzԳáDzDeixe seu comentário

  • 1. à 03:43 PM em 19 jun 2009, Poliana Alves escreveu:

    Ouvir essas cornetas já incomada agente que acompanha pela televisão, imagina pra quem tá no estádio? Haja analgésico, rsrs

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