A banana da discórdia
Foi racismo ou não foi? Três dias depois do infame episódio da banana jogada no campo em Londres após o gol marcado por Neymar contra a Escócia, o assunto não morre. Nem aqui na Inglaterra, e nem no Brasil.
Todo mundo tem uma opinião a respeito. O volante Lucas, que joga no futebol inglês, afirma que não há mais espaço para o racismo no mundo hoje, apesar de isso ainda ser recorrente no Primeiro Mundo.
O próprio Neymar reclamou não só da banana, mas também das vaias que tomou durante o jogo, insinuando que elas seriam também um sinal de racismo.
Já parte da rapidamente repudiou as aos torcedores escoceses, antes mesmo que os fatos viessem à tona. "Neymar deveria deixar suas habilidades de samba falar e lembrar da relação especial da Escócia com o Brasil", escreveu um jornalista do no dia seguinte ao jogo.
Todo mundo tem direito a ter opinião sobre o assunto. Eu próprio, seguindo meu instinto e minha experiência morando aqui na Inglaterra há alguns anos, desconfio que este episódio pode muito bem não ter tido nenhum cunho racista, já que manifestações desse tipo são raras. Raras na Inglaterra e na Escócia, mas não no resto da Europa, diga-se.
Mas só opinião não é suficiente. Precisa-se dos fatos também. E a única entidade que poderia apresentar os fatos não o fez de forma convincente.
O Arsenal, dono do estádio, após uma investigação feita conjuntamente com a polÃcia metropolitana de Londres. Na nota, o clube resume-se a dizer que um turista alemão adolescente jogou a banana no campo.
"A polÃcia metropolitana está satisfeita que não houve intenção racista e nenhuma outra atitude será tomada", diz o texto.
Se pudermos acreditar no que dizem o Arsenal e a polÃcia, de fato os torcedores escoceses estão livres de qualquer suspeita de racismo. Mas e o torcedor alemão? Qual foi a intenção dele? Por que jogou a banana? Aliás, quem é o torcedor e qual foi a explicação dada por ele? A polÃcia sequer ouviu o turista?
Sem essas respostas, é difÃcil chegar a qualquer conclusão satisfatória sobre o assunto.
Coloco-me no lugar do Neymar e do Lucas, que ao comemorarem o gol do Brasil em meio a vaias dos escoceses, se depararam com uma banana jogada no campo. Com tantos episódios semelhantes na Europa - inclusive um idêntico envolvendo Roberto Carlos na mesma semana, na Rússia - qual será o sentimento dos jogadores em campo? Eles não merecem uma explicação sobre o que aconteceu?
A polÃcia britânica e o Arsenal fariam um bem tremendo ao esporte dando explicações satisfatórias sobre o episódio, não só por respeito aos jogadores, mas por precaução.
Neymar é um dos tantos craques brasileiros que podem nos próximos anos. A torcida escocesa já está do atacante, e um clima de animosidade - tão nocivo quanto o de racismo - está no ar. Sem a devida transparência, será difÃcil que esse episódio seja esclarecido e esquecido.