O tardio adeus de Ronaldo
Quando o povo (ou boa parte dele) se une e faz valer sua vontade, não há ditadura que resista, nem jogador que consiga se manter na sombra indefinidamente.
Tem sido assim historicamente. Foi assim no Egito e acabou sendo assim no Corinthians.
Finalmente, Ronaldo, o "Fenômeno", anunciou que cansou, que não dá mais, e resolveu parar de jogar futebol profissionalmente.
Vai agora curtir as merecidas honras de Ãdolo imortal, "monstro sagrado", como diria um cronista-poeta.
Deixa no futebol internacional marcas difÃceis de serem superadas. Foi três vezes eleito melhor jogador do mundo pela Fifa.
Até hoje ainda é o maior goleador do Barcelona em uma só temporada, apesar de toda a magia de Lionel Messi.
Ninguém fez mais gols do que ele nas Copas do Mundo. É o segundo maior artilheiro da seleção brasileira atrás apenas de Pelé. Penta-campeão em 2002. E por aà vai.
Vai saborear também os frutos do gordo contrato de publicidade que mantém com a fabricante do material esportivo que usa.
Segundo o próprio Ronaldo declarou em entrevista na TV, o contrato continua válido por 10 anos após a aposentadoria. Será que isso pesou na decisão de levar a carreira até muito além do que o juÃzo aconselhava?
Provavelmente nunca saberemos. A versão oficial é de que o corpo não corresponde mais aos comandos geniais do cérebro.
Para boa parte da torcida do Corinthians, o resultado final dessa dicotomia entre cérebro e músculo eram movimentos patéticos e letárgicos que muito pouco relembram o craque que brilhou nos campos da Europa.
Se no começo a fórmula fez sucesso pela fama do Ãdolo, no final se tornou um fardo muito pesado para o resto do time carregar.
O ponto de ruptura com a torcida teria sido a saÃda precoce da Libertadores com um empate em casa contra o fraco Tolima e a derrota de 2 a 0 na partida de volta na Colômbia. Protestos e revolta dos torcedores deram a conta da insatisfação.
Na verdade, o casamento com a parte mais apaixonada da Fiel já tinha acabado há mais tempo. Possivelmente, a tolerância terminou no ano passado. Em 2010, Ronaldo entrou em campo em apenas 26, das mais de 60 vezes que o Corinthians jogou.
Dizem que também está cansado de receber ameaças de torcedores idiotizados pela paixão ao clube, que se estendem a membros de sua famÃlia.
Mas segundo os mais céticos, ao se aposentar dos gramados aos 34 anos Ronaldo volta a tomar uma astuta decisão empresarial.
Assim como fez quando decidiu explorar comercialmente a parceria com o Corinthians que rendeu alguns milhões para clube, jogador e agentes diversos, Ronaldo agora estaria tentando preservar a imagem de Ãdolo antes que ela se deteriore, para continuar promovendo marcas a eles vinculadas em eventos a que for convidado.
Uma coisa é fato, com ele a camisa do Corinthians passou a ser a sexta mais rentável do mundo.
Mas por melhor que ele seja como homem de negócios jamais chegará perto do que foi como jogador, como o craque fenomenal que enloqueceu zagueiros nos campeonatos mais disputados do planeta.
Com a aposentadoria ele espera poder fazer com que a torcida lembre apenas daquelas jogadas fabulosas, das arrancadas em velocidade rumo ao gol e dos tÃtulos conseguidos.
Ficando todo o resto irrelevante, incluindo as inúmeras contusões, os grandes e sensacionais escândalos, a final da Copa de 98 e o triste fim de jogador fora de forma, gordo, desajeitado, se esforçando em campo contra um corpo que não mais respondia como esperavam os torcedores.