O carrinho criminoso
Surpreendente e admirável a decisão do técnico da Holanda, Bert van Marwijk, de não convocar o volante Nigel De Jong para a partida de sexta-feira contra a Moldávia, pelas eliminatórias da Eurocopa.
O motivo da barração, a entrada violenta de De Jong no atacante francês Hatem Ben Afra, no último fim de semana, que deixou o jovem jogador do Newcastle United com uma fratura dupla na perna esquerda. Para o técnico a jogada foi "selvagem e desnecessária."
O lance ocorreu na partida em que o clube do holandês, o Manchester City, venceu o Newcastle por 2 a 1 pelo campeonato inglês.
De Jong não é réu primário. Em março, ele quebrou a perna de Stuart Holden, do Bolton Wanderers. Já naquela ocasião, o técnico da Holanda repreendeu o volante, ameaçou não levá-lo para a Copa do Mundo e criticou o nÃvel de arbitragem do futebol inglês que permite a violência em campo.
Na Copa o volante voltou a protagonizar cenas de violência, como a entrada desleal em Xabi Alonso na final contra a Espanha.
De Jong parece ter carta branca para as jogadas violentas. Nos dois episódios ocorridos no futebol inglês ele nem chegou a receber cartão. Na partida final da Copa, apitada pelo árbitro inglês, Howard Webb, ele recebeu apenas o amarelo pelo golpe de caratê aplicado no espanhol.
Curioso é que vários crÃticos de futebol aqui na Inglaterra, muitos deles ex-jogadores, defendem o carrinho (chamado de tackle) que na maioria das vezes é dado por trás do jogador que tem a bola dominada.
Para eles a jogada demonstra a raça, a determinação do jogador, uma das marcas registradadas do futebol inglês, que privilegia a força fÃsica, um conceito que remete à ²õ origens do jogo, criado a partir do rúgbi.
É comum a torcida aplaudir um jogador que sai correndo atrás do adversário até se lançar contra ele num desses funestos tackles sem ter a bola, ou somente ela, como seu objetivo final.
Com a jogada sendo estimulada por uma cultura de elogios e tolerada pela arbitragem, não é surpresa constatar que o futebol inglês produz a cada temporada uma longa lista de jogadores contudidos com seriedade.
Lembro de ver e ouvir o falecido jornalista e técnico João Saldanha criticar o famigerado tackle porque a violência permitia que o zagueiro perna-de-pau anulasse com facilidade o craque que fazia uma jogada elaborada.
Ele defendia que o infrator fosse suspenso pelo mesmo tempo em que a vÃtima ficasse sem poder jogar.
Conta o folclore futebolÃstico que antes da Copa de 66, João Saldanha participava de uma mesa redonda em um canal de TV aqui de Londres, na qual estava também o então presidente da Fifa, o inglês Stanley Rouss. Saldanha criticava com veemência o carrinho por trás que era defendido com igual fervor por Rouss, desde que visasse a bola.
Em determinado momento, Saldanha teria proposto aplicar um tackle no presidente para que ele sentisse na própria pele a violência do carrinho.
Em fevereiro de 2008, o brasileiro naturalizado croata Eduardo da Silva teve o pé praticamente decepado pelo zagueiro Martin Taylor, do Birmingham. Eduardo estava no auge de sua fase no Arsenal. Ficou quase dois anos em recuperação e quando voltou nunca conseguiu repetir as boas atuações, acabou emprestado ao Shakhtar Donetsk da Ucrânia.
Como Eduardo, Stuart e Ben Arfa, muitos outros tiveram a perna quebrada por um adversário em partidas na Inglaterra. Vejam a lista dos últimos 6 anos:
- nov.2004 Djibril Cissé (Liverpool)
- ago.2007 Kieron Dyer (West Ham United)
- fev.2008 Eduardo da Silva (Arsenal)
- set.2008 Craig Fagan (Hull City)
- mar.2010 Stuart Holden (Bolton Wanderers)
- mar.2010 Aaron Ramsey (Arsenal)
- ago.2010 Luke Freeman (Yeovil Town)
- set.2010 Antonio Valencia (Manchester United)
- set.2010 Bobby Zamora (Fulham)
- out.2010 Hatem Ben Arfa (Newcastle United)
°ä´Ç³¾±ð²Ô³Ùá°ù¾±´Ç²õDeixe seu comentário
Esse post do Ricardo é não apenas bem-vindo, mas muito necessário.
A imprensa britânica e os comentaristas esportivos do paÃs têm uma estranha posturam de dois pesos duas medidas. São cheios de pruÃdos quando se trata de botar a mão na bola, vide Henry, ou cavar um pênalti, mas dão de ombros quando o assunto são os carrinhos assassinos.
Espero que os comentaristas mais sabidos e que arranhem um portuguesinho se liguem e confiram este post. Eu já tratei de tuitá-lo.
´¡²ú°ù²¹Ã§´Ç²õ,
Bruno
Pois os ingleses deveriam voltar a apenas jogar rugbi e deixar o futebol com quem entende de bola redonda.