Campanhas de prevenção à Aids 'passam longe' da Copa
Como uma brasileira acostumada às campanhas de prevenção ao HIV do Ministério da Saúde, principalmente na época do Carnaval, imaginava encontrar algo semelhante aqui na África do Sul durante a Copa do Mundo.
Afinal, este é o país com o maior número de pessoas contaminadas pelo vírus da Aids no mundo - 5,7 milhões, segundo a Organização Mundial de Saúde -, e as autoridades esperam a entrada de até 500 mil turistas estrangeiros até o fim do torneio.
Depois de quase 20 dias por aqui, tendo visitado quatro cidades diferentes, o máximo que vi foi um display no terminal doméstico do aeroporto da Cidade do Cabo e um anúncio que a rede estatal de televisão SABC transmite no intervalo de alguns jogos - ambos feitos pela mesma ONG, a Brothers for Life, com uma mensagem incentivando homens a usar preservativos.
A ausência de uma campanha mais visível para a Copa do Mundo não significa que o governo sul-africano não tenha uma preocupação com o problema. Recentemente, as autoridades lançaram a Campanha de Exames e Aconselhamento para Vítimas do HIV. Seu principal foco é o apelo para que os cidadãos façam exames para saber se são ou não portadores do vírus, já que o diagnóstico e o tratamento precoces ajudam a lidar melhor com a doença e evitar seu alastramento.
Mas as ONGs sul-africanas têm reclamado que o Mundial poderia estar sendo melhor utilizado para aumentar a conscientização. Uma das queixas dessas organizações foi contra uma possível proibição da sua atuação em estádios e áreas de telões, os chamados Fan Fests.
Diante das críticas, a Fifa divulgou um comunicado dizendo que autorizaria a distribuição de milhões de camisinhas e material informativo pelas autoridades de saúde nos Fan Fests, além de exibir anúncios sobre prevenção e tratamento da Aids nos telões, entre um jogo e outro.
Esses locais, no entanto, passam boa parte do dia vazios, e, para as ONGs, a solução da Fifa não pareceu ser suficiente.
"O entretenimento é uma das melhores plataformas para criar conscientização. Mas essas mensagens de incentivo ao sexo seguro deveriam também ser exibidas nos estádios", disse à 鶹 Brasil Nokhwezi Hoboyi, da ONG Treatment Action Campaign (TAC), cujo trabalho já foi elogiado pela Unaids (Agência da ONU para a Aids). "No show de abertura da Copa, que reuniu 60 mil pessoas, não houve nenhuma mensagem sobre a Aids."
As críticas também se direcionam à falta de uma coordenação maior entre todos os setores da sociedade sul-africana com interesse em lutar contra a doença.
"O governo, a Fifa, as entidades civis, as igrejas, os líderes comunitários - todo mundo tem um papel no combate à Aids e deveria ter se sentado à mesma mesa para decidir como atuar durante o Mundial", explicou o reverendo Nelis du Toit, diretor do Christian Aids Bureau of South Africa (CABSA).
Será essa uma lição para o Brasil em 2014?