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Fazendo as pazes com o futebol

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Maria Luisa Cavalcanti | 2010-06-08, 10:47

"Querida Maria Luisa, que graça a sua carta". Assim começa a mensagem que recebi de um dos meus ídolos, Sócrates, em agosto de 1982. A "carta" a que ele se referia eu tinha escrito semanas antes, logo depois de o Brasil perder por 3 x 2 da Itália naquele fatídico jogo disputado no estádio Sarriá, em Barcelona.

A Copa de 82 foi a minha "primeira". A primeira em que eu, com 10 anos, entendi o que era uma Copa. Montei o álbum das figurinhas que vinham no chiclete Ping-Pong, comprei o compacto do Sangue, Suíngue e Cintura, a música-hino do Moraes Moreira, joguei botão à exaustão com o meu irmão antecipando o momento em que o Brasil seria tetracampeão.

A escalação de Telê - ao menos partes dela - eu lembro de cabeça até hoje (sem recorrer ao Google, juro). Lembro que o goleiro era o Waldir Peres. Da zaga lembro do Leandro e do Júnior. Daí para a frente tinha o Toninho Cerezo, o Paulo Isidoro, Sócrates, Zico, Éder e Falcão. Os dois que faltam não devem ter me impressionado suficientemente.

CartaSocrates1982226283.gif

E o Brasil ganhou de virada da União Soviética, após o famoso "frango" do Waldir Peres, goleou a Escócia, e ganhou da Argentina.

A cada gol, a Globo colocava a assinatura do jogador que marcava. E foi assim que eu reconheci imediatamente a letra no envelope do Sócrates endereçado a mim.

Escrevi para ele porque estava desolada. Simplesmente não conseguia entender por que o Brasil não foi campeão, como todo mundo me prometeu. E por que a nova chance só viria dali a quatro anos - que chato que é Copa do Mundo, só de quatro em quatro anos, eu pensava.

E, bom, só fui ver o Brasil ser campeão em 1994. Mas até lá, me desculpem, eu já estava de mal com o futebol. A derrota para a França de Platini em 86 foi uma tortura. Todo o Mundial de 90 foi um horror e mesmo em 94 não dava para adorar os jogadores como eu idolatrei os de 82.

Em 2002, comecei a me reanimar com a Copa. O Scolari, o nome que eu mais admiro no futebol atual, conduziu o Brasil em um torneio bonito. Foi uma conquista verdadeira (e não na base de o adversário perder pênalti em uma final que termina em 0 x 0, como em 94).

Na Copa da Alemanha, em 2006, por conta do marido e dos amigos estrangeiros, acabei torcendo e vibrando com várias seleções, de França a Argentina, passando por Portugal, Espanha e Austrália.

Passei a entender que o meu trauma com 1982 não devia me impedir de curtir esta que é uma das maiores festas do planeta.

A deixa para eu finalmente fazer as pazes com o futebol foi a notícia de que eu viria para a África do Sul cobrir a Copa pela 鶹 Brasil. Minha missão aqui vai ser acompanhar como este país vai receber o torneio, encontrar as histórias curiosas, trazer a você um pouco do sabor deste Mundial que promete ser tão diferente.

E mal posso esperar para ver a bola rolar. Ver o Brasil no seu "Grupo da Morte", ver se a Coreia do Norte vai mesmo surpreender o mundo, se existe vida na França pós-Zidane, se Messi vai honrar a expectativa de ser o maior marcador desse Mundial, se a Espanha vai repetir o sucesso da última Eurocopa, e, claro, se os africanos - pelos pés de Drogba, Eto'o ou os Bafana Bafana - vão chegar até a final.

dzԳáDzDeixe seu comentário

  • 1. à 12:09 AM em 10 jun 2010, josi paz escreveu:

    que texto lindo! que história linda! amei! é legal você ter o endereço do dunga, anyway. just in case... : )

  • 2. à 03:23 PM em 10 jun 2010, Paulo escreveu:

    Maria Luisa, em 1982 eu tinha 6 anos de idade. Também quis reclamar com alguém da seleção por ela ter perdido o jogo com a Itália !
    - Por que o Zico entrou pra cobrar a penalidade ?
    - Por que o Toninho Cerezo passava a bola para o jogador do lado e não para frente ?
    Fiquei curioso em ler a tua carta da época !
    Essas recordações também são engraçadas ..

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