Apenas uma vitória basta
Parece um clichê dos mais batidos dizer que o futebol é uma grande oportunidade para união de povos e raças. Mas esse lado da Copa do Mundo é o que mais interessa aos sul-africanos. Nenhum dos sul-africanos com quem falei até agora, em três semanas que estou no país, espera que os Bafana Bafana ganhem a Copa.
A Copa do Mundo, que começa nesta sexta-feira na África do Sul, é mais um capítulo na história de conciliação entre brancos e negros do país. O regime do apartheid acabou nos anos 90, mas o "apartheid esportivo" ainda existe. Em geral, os brancos gostam de rúgbi e os negros gostam de futebol. Por muito tempo, torcedores dos dois esportes detestavam-se uns aos outros.
Mas em 1995, as coisas começaram a mudar. Sob a liderança do então presidente Nelson Mandela, os negros uniram-se em torno do time branco de rúgbi no Copa Mundial do esporte.
Agora, com a Copa de futebol, é a vez de os brancos retribuírem. Toda a "nação arco-íris" - termo usado para descrever a África do Sul pós-apartheid - está unida em torno dos Bafana Bafana, que só tem um jogador branco. Os brancos estão entre os maiores entusiastas da "Soccer Friday" - toda sexta-feira os sul-africanos vão trabalhar com a camisa da seleção daqui.
Conversei com os alunos da Hoërskool Randburg, escola majoritariamente de brancos descendetes de holandeses, e todos que ouvi estão empolgados com os Bafana, apesar da forte tradição do rúgbi na escola.
Ganhar uma partida na Copa e ter um motivo para comemorar é tudo que os sul-africanos esperam do seu time. Se essa vitória acontecer contra o México, na estreia, será melhor ainda. Os mais otimistas ainda gostaríam de ver a África do Sul avançar para a segunda fase. Mas as ambições do país acabam por aí.
Apesar de todo esse clima de reconciliação, nem tudo aqui é "arco-íris". Há ainda muito ressentimento entre as raças.
Esta semana conversei com uma sul-africana que reclama que, em escolas e clubes, as equipes possuem cotas para jogadores brancos e negros. O objetivo é promover a união das raças no esporte.
Na escola do seu filho, o único esporte que não possui cotas para brancos é o futebol. Ela se diz orgulhosa dos Bafana Bafana, mas se questiona: quanto tempo ainda levará para que o país não precise mais pensar em raças.
Outro motivo de orgulho dos sul-africanos com a Copa é receber pessoas de todas as partes do mundo. Nas últimas décadas do apartheid, a África do Sul foi banida de diversas esferas da comunidade internacional. Vinte anos depois, o mundo todo está sintonizado no país pela televisão.
dzԳáDzDeixe seu comentário
Estou com o Felipe Mello nessa. Tenho consciência da obrigação da imprensa em noticiar os acontecimentos ao público. Entretanto, todos sabemos o quão tendenciosa a imprensa pode ser. Transformar pequenos casos em grandes casos, com o intuito de vender e lucrar, é uma constante na imprensa. E está ainda se diz séria.
Felipe Mello, é isso aí! Fala mesmo! Somos brasileiros torcendo pro Brasil. Deixe a imprensa noticiar o que for. O Brasil é muito maior que isso.